quinta-feira, 12 de junho de 2008

Propósitos inversos

Tem escritor, tem escritor-jornalista e tem jornalista-jornalista. Escrever, de fato, é habilidade. Mas, toda habilidade pode ser desenvolvida e aprimorada. Em qualquer circunstância, a prática só vem para acrescentar. O que indigna é presentificar esta justificativa como argumento para não obrigatoriedade do diploma para jornalistas. E pior, proferido por quem está em formação para atuar na bendita profissão (adoro o dito cujo, mas tenho direito de me revoltar).

Na melhor das hipóteses, é incompreensível. Se apenas saber escrever for sinônimo de credibilidade, vamos consumir os vômitos despejados por Diogo Mainardi ou Arnaldo Jarbor sem pestanejar. Para o devido crédito, o jornalista se baseia em princípios, que é acompanhado de técnicas. Como descartar a capacitação de profissionais que lidam com o poder da política, com investigação, com polícia, situações imprevistas, e constante pressão? Como abolir toda a base teórica de quem está em contato intenso e diário com o ser-humano?

Descartar a importância do diploma é desmerecer as teorias da comunicação, do jornalismo, a semiótica, a antropologia, a sociologia, as pesquisas científicas, a filosofia. É esquecer a história. O legado serve de estudo, e o estudo é aprendizado, compreensão e análise.

Sei que na teoria as coisas são simplificadas. Mas, quem passou quatro anos em curso, tem que defender seu espaço que é de direito. Uma profissão, que dizem ser o quarto poder, não deve ser tão fácil assim. A ética é um princípio nato, mas também pode ser apreendido. E o jornalismo, bem antes do status e do jogo de interesses, significa responsabilidade social. Então, não basta apenas saber escrever.

No primeiro semestre, quando aprendemos quais as funções do jornalista, uma delas, particulamente, me apavorou. Se você não reconhece o que pode ser notícia, você não possui o 'faro jornalístico'. Parece besteira, mas ir atrás de pauta requer sensibilidade, é olhar para os lados, duvidar do que vê para tentar compreender. Desprezar os preconceitos para conhecer o que está em nossa volta. É agir para melhorar, denunciar, tranformar. Aprendemos a importância fundamental da apuração. E que histórias não possuem apenas dois lados! Desmitificar a objetividade ao perceber que não existem fatos, mas versões da realidade.

A tendência deveria ser evoluir, não regredir. As irresponsabilidades jornalísticas podem ser irreversíveis, vide tantos exemplos. Por isso, não entendo a falta de união numa luta que deveria ser conjunta.

3 comentários:

Anônimo disse...

"E o jornalismo, bem antes do status e do jogo de interesses, significa responsabilidade social. Então, não basta apenas saber escrever."

Concordo. E como vc tbm disse, tem o compromisso com a ética...

Grande defesa da nossa classe!

Anônimo disse...

Muito bom assunto... Gostei muito da matéria, parabéns.

Thiago Guimarães disse...

Ótima defesa. Pra mim ainda é um pouco obscuro, pois estou no inicio desse caminho, mas espero findá-lo com essa mesma certeza que expõe!

PS: Foi muito bom ter encontrado por aqui o documentário sobre Aécio e a imprensa de Minas no post anterior, não tinha visto ainda, agora estou ajudando a divulgar!