segunda-feira, 24 de novembro de 2008

cof, cof, cof

Como dicas são sempre bem-vindas, faço questão de dá-las, na tentativa de desapoeirar este blog embauzado. A era pede convergência, mas habituá-las nosso ritmo a elas parece brincadeira de quebra-cabeça. Tudo por causa do tempo. Administrá-lo exige realmente jogo de cintura, um rebolado à parte. Para deixar os ventos tocarem os cabelos, talvez um cinema. Há uma semana assisti Romance, de Guel Arraes. Antes, Wagner Moura e Letícia Sabatella já chamavam a atenção. Wladimir Britcha sempre atencioso nas comédias. O máximo. O filme narra a relação de um casal de artistas, ele, diretor e ator, ela, atriz, que se apaixonaram durante os ensaios da peça Tristão e Isolda. Sempre reflexivo, filosófico, bebiam vinho, e pensavam na beleza da depressiva tragédia em que os amantes morrem no fim. Mas, eles adoravam e tentavam sempre fazer analogias com as suas realidades. Como em toda narrativa, os entraves acontecem. Ela torna-se atriz famosa de novela, sai em todas as capas de revistas, programas de televisão. Ele, prefere se fechar ao teatro, onde podia liberar sem pudores a sua criatividade. Por mal entendido se separam. Mas se reencontram num projeto incomum para a tv, a convite dela (ah, esqueçi os nomes). Resolvem, então, fazer a adaptação de Tristão e Isolda para o sertão num canal cheio de audiência!! Ah, nada disso importa tanto na narrativa. O melhor são os diálogos, a sensibilidade, as mudanças, a duração do sentimento, o desapego. Desde do começo. E o final, em que voltam a trabalhar juntos, na peça Romance, em que transfiguram em peça o que tinham vivido. Para quem lê, a dica é mais simples que parece: assistam. Só isso.

Woody Allen também. Pode ser um pouco menor do que os grandes clássicos, como afirmam as críticas, mas é sempre Woody Allen. Pode ser aquém do que já foi, mas as frases de efeitos e as tiradas são únicas de Woody Allen. Vick Cristina Barcelona pode ter passado um provicianismo em relação a Barcelona, pedia uma narrativa estética mais engajada, mas, só sei que os meus olhos não piscavam. De subjetividades implícitas, pedindo reflexões, tentando se espelhar em algumas das personagens, desmitificando o espectro de homem a príncipio todo poderoso e satisfazendo as condutas excessivas, impulsivas, sonhadoras e racional das mulheres. Personagens paradoxais, retratos de universos que parecem distindos se não fossem tão mesclados. Histórias não concluídas, sempre em metamorfose, que surpreende, porque nada é para sempre, e o ser humano sempre quer mais, quer se renovar. Vale a pena assistir Vick Cristina Barcelona, como todos os seus clássicos.