terça-feira, 7 de julho de 2009

Aonde o jornalismo vai parar!

Caiu o jornalismo, como uma manga cai de uma árvore e se depara com o impacto da terra. Vê-se amassada, corroída, até comível, porém pronta para também ser jogada fora, no desperdício. Surpreende-me a causa, meticulosa e inconsequente, sutentada na liberdade de expressão. Como se a aclamada liberdade apregoada pelos "cerceados" ministros do Supremo, tendo como rei da corte Gilmar Mendes + seis, fosse tolhida. O oitavo presente no dia em que foi clamada a "liberdade" para o povo brasileiro, o ex-presidente do Supremo, o ministro Marco Aurélio de Mello se negou, em argumentos, a presentificar seu "sim, derruba". No dia 17 de junho, ele votou contra a não obrigatoriedade do diploma de jornalista. Infelizmente, só um.
É, caiu o diploma, caiu a figura do jornalista. Talvez agora todos virem comunicador, os formados jornalistas, os cozinheiros, garçons, motoristas, médicos, advogados, terapeutas ocupacionais, o malandro da esquina, o desempregado. Para quem julga do topo, também os já bem sucedidos, não há, realmente, porque não achar que o cenário vai mudar. As expectativas deles não mudam. Os desejos, neste aspecto, continuam inertes. Ora, dizem que jornalista formado (tem que chamar assim?), agora, tem prioridade. Ô!
Há de se preocupar, sim. Com um, com outro, com a classe. Vivemos num país de raras oportunidades, onde 271 políticos comandam a quase totalidade das concessões midiáticas, todas boicotadas por jogos de interesses. Neste país que finge democracia, a irresponsabilidade na hora de medidas não padece de culpa. Nada de argumentos cabíveis, apurados, contra-argumentados.

È a banalização, que começa com a proliferação de cursos pelo MEC e acaba na desregulamentação de uma profissão. Desacato à sociedade, formada por uma maioria que não tem a quem recorrer e para quem deveria ser voltado o jornalismo. Escândalos no Congresso, como a crise no Senado, entre outros corriqueiros episódios típicos brasileiros, são alamardos pela imprensa. E aí o perigo vai se sobrepondo. Ainda que o jornalismo seja alvo de lanças, muitas vezes sob armadilhas planejadas, em cumplicidades mútuas entre jornalistas e poderosos na divulgação da informação, mesmo assim, o risco de dano à sociedade e aos vitimizados, hoje, tem responsável -provavelmente um jornalista responderá pela ética por falhar nas premissas do que é reportar. A universidade serve como renovação, capacitação, melhoria.

São muitos aspectos, o próprio jornalismo passa hoje por uma reconfiguração de cenário tão brusca com a entrada da tecnologia nas redações, que o importante a ser discutido seria uma reformulação nas grades dos cursos de graduação. Mas é tudo invertido. E nesse jogo de um lado, quem sai sem dignidade é uma profissão. Ao jornalismo foi atribuído o patamar de quarto poder e talvez por isso tantos olhos-gordo, tanta tentativa de domínio. Não parece evidente, aos ministros favoráveis, o papel de responsabilidade social inerente a qualquer pauta que se preze. Não parece óbvio que as notícias dão ritmo ao andamento da sociedade.

São 80 mil formados e a lástima é deprimente. Percebo que os jornalistas são tão desunidos, relapsos ou acomodados que reagem de forma natural a uma decisão que vai contra a dignificância de uma profissão história e de importância inegável à sociedade. Confundem liberdade de expressão com profissionalismo e evolução de uma profissão. Pedemos nós, perde a sociedade. Jornalismo é delicado, exige padrões técnicos, teóricos e de ética. Ao contrário do Supremo atribui. É inadimissível, desacorajador e humilhante esta condição. E escuto, mas não consigo compreender quem pensa a favor. Não por mim, não por todos, mas pela própria profissão. Não existe.


4 comentários:

Anônimo disse...

engraçado...

quando fui fazer vestibular duas opções de cursos se descortinavam para mim e para muitos: jornalismo ou direito. Pensei cá com meus botões: vou fazer direito. qualquer coisa, viro jornalista! Minha ignorãncia e minha incompreensão vocacional foram saudadas pelo Supremo Tribunal Federal. Estou bastante satisfeito com a decisão do Supremo. Estou agora apto para duas carreiras. Fiz uma faculdade 2 em 1. 5 anos, 2 cursos. Estou pronto para começar a jornalistar! Axo que vou começar entrevistando o Ministro do STF. Axo que ele vai gostar muito do meu preparo!

Anami Brito disse...

Será que por ser considerado o 'Quarto Poder' o STF tomou essa decisão?! Se os jornalistas formados que possuem vasto conhecimento sobre os critérios que permeiam a comunicação ainda cometem alguns delizes, imagina as pessoas que não foram graduadas para isso exercer esta função. Essa decisão chega a ser um disparate destes políticos, ou talvez seja essa uma forma de coibir o trabalho da imprensa.

Leonardo Xavier disse...

Honestamente, eu acho que a não obrigatoriedade não implica na não contratação do Jornalista formado, mas ao mesmo tempo abre espaço para profissionais de outra área também podem ter acesso a mídia. Por exemplo quando eu vou ler a coluna de informática de um jornal, algumas vezes é bastante interessante ter uma opinião mais técnica que dificilmente um jornalista poderia ter pela própria natureza da sua formação.

Além do mais eu acho que você tem que ver que o seu diploma não é algo que te dá uma exclusividade a vagas de emprego numa área, mas algo que comprove que você teve uma formação extensa naquela área e se essa formação for necessária você será contratada.

Vinícius Soares Carvalho disse...

Advogado, publicitário e jornalista são três profissões lastimáveis!
A tratar!
Saudades.
Vi.